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Desculpem

A verdade é que sempre gostei de ser do mundo. Sempre gostei de sentir o vento entrando pela janela do meu quarto fazendo com que eu me arrepiasse. Sentindo isso, eu tinha certeza de que possuía o mundo em minhas mãos. Sentindo isso, eu via a perspectiva a um passo de se concretizar. 
Nas noites com ventos gelados, vendo os inúmeros apartamentos com luzes acesas, eu só tinha uma certeza: Eu sou do mundo. Não me prendam a nada, a ninguém. Deixem-me livre.
Prender-me em algo, seja pelas mãos, pelos pés, em um abraço, num beijo, ou em um "até logo!" me desconserta, como se algo me roubasse a sanidade ou a liberdade. Como tenho medo de perdê-las!
Quando vejo que os caminhos se afunilam e tendem a ser seletivos e definidos, eu me perco, saio da janela, fico com medo do vento e
não consigo mais senti-lo com a mesma felicidade de antes. 
No entanto, por mais que no fim do dia, sempre termino sozinha, nunca reclamei disso, porque, afinal de contas, essa solidão é uma virtude. 
Essa vontade de explorar o mundo, mesmo contando só com a minha presença, é a completude que eu sempre desejei encontrar e, isso, agora, parece ser tão paradoxal, pois essa sensação sempre fui muito difícil de eu entender. Saber lidar com o "estar sozinho" sempre foi uma tarefa dualista, árdua, exigida de muita flexibilidade emocional. Coisa que nunca tive.
Não tem problema. Só não me prendam. Não exijam que eu fique. Talvez eu volte amanhã a sentir o vento na janela de novo, mas não me obriguem a fazê-lo agora. O tempo passa e amanhã eu já queira  repetir. Ou não. Não exijam explicações, não cobrem, não pressionem.
Eu preciso voar e ver novos horizontes. Se é o que quero, que mal tem?!
Não me entendam mal, mas assim como há pessoas com um -falso- determinismo e propensão a alguns destinos, vícios e hábitos, talvez a minha peculiaridade seja querer o mundo e não poder tê-lo. Talvez porque algo sempre me puxa para trás e,  muitas das vezes, sou culpada e não admito, como provocar um sentimento em alguém e ter medo de ficar, por simples vontade de sempre querer ver sozinha o sol nascendo ou por querer sentir o vento entrando pela janela, sozinha.
Desculpem, sou do mundo.









Fran
03/02
22h23



Comentários

  1. Sós e insanos é só o que somos.
    GK

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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